"Educar é mostrar a vida a quem não a viu".Quero ensinar as crianças, elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os filósofos gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal". Rubem Alves

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A importância do brincar e das atividades lúdicas para o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.

      O objetivo deste artigo é o de suscitar a reflexão e a compreensão dos pais, familiares e educadores sobre a importância das atividades lúdicas: jogos, brincadeiras e brinquedos, para o desenvolvimento emocional, afetivo e cognitivo da criança. 
      A atividade lúdica e o brincar tem sido objeto de interesse de diversos pesquisadores, psicopedagogogos, psicólogos e educadores como Freud (1920), Winnicott (1975), Oliveira (1997), Piaget (1970), Vygotsky (1998), Wallon (2002), entre outros, sendo compreendida como uma forma de assimilação da realidade pela criança, que colabora também com os processos de aprendizagem, estimulação da criatividade, capacidade de concentração e socialização.
      A criança por ainda estar em pleno desenvolvimento emocional e cognitivo, não possui recursos simbólicos suficientes para expressar-se complexamente no mundo pela via da fala, por conta disso, ela consegue através dos jogos e brincadeiras, representar as situações vivenciadas em sua dinâmica social e familiar, ressignificando estes acontecimentos e lhes atribuindo algum sentido.
      O principal objetivo da atividade lúdica é o de propiciar à criança, a construção de mecanismos psíquicos que a possibilitem de elaborar simbolicamente os acontecimentos através da fantasia e representação da realidade, favorecendo assim o seu desenvolvimento e a aprendizagem.
Ao brincar a criança integra sua vivência passada, suas lembranças e fantasias, seus medos e desejos no presente, através de uma reformulação pessoal e criativa. Existe uma íntima relação da brincadeira simbólica com as demais manifestações simbólicas como a linguagem, a imitação e o desenho.
O homem, ao longo da História foi interiorizando cada vez mais a sua ação, desvinculando-a do concreto, de modo que pudesse ser mais significativo para si, buscando e encontrando meios de atingir seus objetivos com menor esforço físico e maior atividade mental. A busca ativa sobre o meio, físico, também desenvolveu e transformou sua maneira de perceber o mundo, fazendo com que ele refletisse de forma cada vez mais abstrata sobre a realidade. Usamos imagens para descrever um fato ou para representar uma hipótese. Aprender a lidar com as imagens foi uma lenta e árdua conquista do homem, que antes de aprender a organizá-las em sistemas, aprendeu a formá-las isoladamente. Ele tornou-se capaz de representar o ausente, o não percebido e a fazê-lo de diversas maneiras. A origem do símbolo está intimamente ligada à magia. Na função verbal, as palavras possuem poderes mágicos sobre o nomeado, o significado.
O simbolismo em seu início está preso ao mundo físico. Sujeito, criação, representação e imitação se unem e se complementam na formação do símbolo. Nesse processo não há a possibilidade de representação desvinculada da ação do sujeito sobre o objeto. Quando o símbolo perde o seu caráter funcional de interação entre homem e meio, ele se torna um sinal ou sintoma de alienação, um alerta de que o processo de adaptação está em desequilíbrio, se desvirtuando pela desvinculação significativa da relação sujeito-objeto.
Num primeiro momento, a brincadeira não apresenta um objetivo educativo ou de aprendizagem pré-definido. É desenvolvida pela criança para seu prazer e recreação, mas também permite a ela interagir com os adultos e explorar o meio ambiente. Ao brincar a criança começa a fazer um teatro ritualístico das situações mais significativas de sua vida: na hora de dormir, do banho, de se despedir, de comer, etc. Esse rito conta com a participação de algum objeto ou pessoa muito significativo para ela. Os objetos ou situações intermediários entre a criança e o outro, são simbolicamente a continuação do cordão umbilical e ao mesmo tempo, propiciadores de condições favoráveis ao processo de separação saudável entre o eu e o objeto (bebê/mãe), que Winnicott (1971) chama de objetos ou fenômenos transicionais. Essa consciência elementar de si mesmo, do eu-corporal num contexto histórico e espaço-temporal, é que dá condições para a criança internalizar as experiências vividas, onde ela passa a representar sua ação internamente e a se utilizar de manifestações simbólicas para interagir com o meio, lembrando de algo sem precisar vê-lo.
Cada ser humano é marcado pela relação real que tem com seus pais e por conta disso, também cria uma imagem do homem e da mulher complementares, emprestada simbolicamente destes pais ou por quem os criou. A partir do empréstimo imaginário dos pais reais, o sujeito vai se constituir e se desenvolver, identificando-se com essas imagens e figuras parentais projetadas.
Dialeticamente desejo e inteligência estão implicados, através da manifestação de um corpo infantil que mostra a sua relação com o mundo enquanto brinca. É através da brincadeira que a criança mostra de que forma está construindo sua história e organização no mundo. A criança através de sua brincadeira também mostra quando se trata de diagnosticar uma enfermidade, quais são as fantasias inconscientes de cura. O não brincar também indica a presença de alguma patologia, como é o caso de um sintoma de neurose grave.
De acordo com Oliveira (1997) a clínica mostra que muitos adultos que não tiveram a possibilidade de elaborar situações dolorosas ou traumáticas ao longo da infância e que hoje são “aparentemente” normais também não haviam brincado e que a ausência do brinquedo certo no momento adequado, acarreta perturbações. O fato de não surgir um determinado brinquedo característico de uma determinada idade, pode ser um sinal de problema no desenvolvimento. O aparecimento e o desaparecimento de um modo de brincar se relaciona a maturação e ao desenvolvimento da criança.
Winnicott (1971) afirma que o brincar facilita o crescimento e a promoção da saúde, o não brincar pode significar que a criança esteja com algum problema e que isso prejudicará diretamente em seu desenvolvimento. O mesmo também se aplica aos adultos, quando não se permitem vivenciar situações lúdicas em momentos de descontração, lazer e expansão da criatividade. Para o autor, quando um adulto inibe ou proíbe as brincadeira das crianças, ele causa a privação de experiências num momento importantes de suas vidas. Ele afirma:
“É a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação...” (WINNICOTT, 1971, p.63).
Para Winnicott (1971) há uma evolução direta dos fenômenos transicionais para o brincar e as experiências culturais. O brinquedo se aproxima do sonho, reestruturando conteúdos inconscientes e adquirindo formas oníricas de lidar com a realidade interna sem perder o contato com a realidade externa.
A visão piagetiana considera o jogo como sendo de fundamental importância para o desenvolvimento humano, afirmando que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo por conta disso, indispensável à prática educativa. Os jogos estimulam funções cognitivas importantes para o aprendizado, tais como: memorização, articulação, percepção visual, raciocínio lógico e abstrato, enumeração, etc.
O brincar traduz o mundo para a realidade infantil, propiciando a criança o desenvolvimento da sua inteligência, sensibilidade, habilidades, criatividade, além de aprender a socializar-se com as outras crianças e com os adultos. A brincadeira e o jogo, assim como os momentos de lazer, são fundamentais nesse processo e devem acompanhar a criança na escola para a manutenção da sua saúde física e emocional.

Por Aline Debatin
Psicóloga e psicopedagoga

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OLIVEIRA, Vera B. O símbolo e o brinquedo: a representação da vida. Petrópolis: Vozes, 1992.
OLIVEIRA, Vera B. Avaliação Psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petropolis, 5ª Ed., 1997.
PIAGET, J. Psicologia e Pedagogia. Trad. Por Dirceu Accioly Lindoso e Rosa Maria Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1971

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